Mulheres-mães protagonistas da própria história

Mãe Cíclica

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O que fazes tu, em tempos de quarentena? Certamente, nestes tempos, mães estão sobrecarregadas e, por isso, distantes de si. É preciso dividir o tempo entre filhos, casa, marido, estudo, home office, mas não há tempo para si: não há pausa, não há silêncio, não há recolhimento.

Em isolamento social e vivendo uma mistura de angústia, estresse, culpa, impaciência, medo, cobranças, cansaço físico, exaustão emocional … a mãe pode enfrentar uma crise de identidade como aquela descrita por Natália Ahn: “No silêncio do terceiro mês do meu isolamento devido a uma pandemia, me deparo com uma crise: Quem sou eu? A mãe? A estudante? A esposa? A mulher/indivíduo? Quem sou eu? Não consigo me identificar neste momento, não consigo dizer quem sou.” 

Quando li o texto na “Revista Mães que Escrevem”, imediatamente, surgiu em mim a resposta diante da pergunta principal: quem sou eu? O que ficou evidente para mim é que o ser mulher perpassa todos os outros papéis que desempenhamos em nosso dia a dia dentro e fora de casa, então, uma resposta à pergunta é: sou cíclica. Tudo o que existe tem seus ciclos e não é diferente conosco.

É urgente olhar para si, reconhecer e compreender os nossos ciclos mensais para a partir disso agir no mundo, dentro de casa, e com o outro (filhos e/ou marido). Penso que conhecer os nossos ciclos lunares e respeitar a energia de cada fase é imprescindível senão seremos mães caducas educando, trabalhando e construindo um mundo caduco. Penso que conhecer a energia envolvida em cada fase nos fortalece para desempenhar os outros papéis mesmo em meio a uma pandemia e diante da falta de uma rede de apoio.

Aqui em casa, sou mãe solo, busco equilibrar e respeitar ao máximo o que se passa em mim. Existem aqueles dias em que tudo é fácil, o ânimo está leve e alegre, o sono é pouco, são dias de criatividade e aproveito para produzir mais, trabalhar mais, enfim, fazer mais. Isso, no entanto, não quer dizer que tudo acontece conforme a minha vontade já que existe uma criança de 3 anos que tem suas necessidades para serem atendidas e respeitadas.

Há aqueles dias em que a criatividade diminui e há uma força de ação, de execução do planejado e pensado, e, em seguida, vêm os dias de reflexão, desordem interior. Esses são os dias em que faço o que precisa ser feito, mas sem gastar energia, busco recarregar as forças, por exemplo, mexendo na terra (ainda que em vasos), cuido com mais atenção da casa e procurando incluir a criança no fazer. E chegam os dias em que o simples ato de respirar cansa e porque estamos com pouca energia logo nos irritamos com aquilo que cobra mais do que podemos oferecer.

Em seguida, sangramos, e são os dias em que nos pedem mais recolhimento, aquietamento, introspecção, silêncio, o que, certamente, é difícil para uma mãe respeitar, afinal, são tantas as demandas! É difícil, mas essencial! 

A mãe se estiver atenta e conectada com seu ciclos mensais e lunares perceberá em si que em determinados períodos tem a necessidade do recolhimento e do silêncio, isto é, naturalmente ela é convidada para a meditação. Mesmo que a mãe não consiga praticar a meditação regularmente, se puder, ao menos, respeitar e atender ao chamado natural para a introspecção e o silêncio, então, certamente, tornar-se-à uma mãe, esposa, profissional, estudante, enfim, uma mulher mais pacífica, amorosa, paciente, alegre e equilibrada.  Mas, ressalto, é preciso que ao menos, nesse momento do seu ciclo, a mulher olhe para si e atenda ao chamado do seu corpo.

E, sabem qual é o maior aprendizado de uma mulher? Rupi Kaur disse: “é que desde o primeiro dia/ela já tem tudo o que precisa em si mesma/ mas o mundo a convenceu de que não tinha”.


Autora: Tatiana Betanin, educadora e mãe. Praticante de yôga e meditação. Formada em filosofia. Educadora montessori. Compartilho um pouco do trabalho no (@educandocomontessori).

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