Mulheres-mães protagonistas da própria história

Injustiça e maternidade | Meus filhos estão num abrigo – Relato Anônimo

Injustiça e maternidade | Meus filhos estão num abrigo – Relato Anônimo

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Não vou aqui revelar nomes pois estou cansada de ser exposta toda vez que falo sobre a maternidade real.
Eu tenho dois filhos, um de 4 anos e um de 2 anos. Fui casada com o pai deles.
Quando nos separamos eu decidi que ele ficaria com as crianças pois queria estudar e trabalhar.
Durante o casamento, ele me impediu várias vezes de trabalhar alegando que eu não conseguiria chegar a tempo de pegá-los na perua escolar, me impediu varias vezes de estudar alegando que eu era burra demais pra isso e que seria uma perda de tempo.

Ele odiou a ideia de ter que cuidar dos pequenos, logo ele, que nunca nem trocou uma fralda e quando trocava era com tanto má vontade que a fralda, além de torta, caía da bunda da criança.
Mas eu bati o pé, priorizei meus estudos, minha instabilidade financeira e minha saúde mental.
Descobri há pouco tempo, acho que há um ano, que além de depressão, tenho TAG, Síndrome do pânico e TOC.
Eu estava num nível da depressão tão forte que um dos meus filhos me viu com uma faca tentando cortar os pulsos.

Obviamente eu não tinha (ainda não tenho) condições psicológicas para criar duas crianças.
“Engravida quem quer”, eles dizem, né ?

Imagina uma mulher casada que sempre deixou claro que nunca quis ter filhos, ser estuprada pelo marido até engravidar, receber lavagem cerebral, manipulação pra acreditar que foi porque quis e ser estuprada mais uma vez pra engravidar de novo quando resolve dizer que não ama mais o cônjuge ? Esse foi meu motivo de ter engravidado.

Desde que meus filhos moram com o pai, eu vinha percebendo que o pai deles não estava cuidando direito, no intuito de me fazer voltar com ele ou de me fazer desistir dos meus objetivos.  Várias vezes conversei com ele, perguntei se não seria melhor enviar as crianças pra casa da minha tia que tinha melhores condições que nós dois e já tinha se disponibilizado a nos ajudar. Ele se negava, era agressivo, grosso e ignorante quando eu tocava nesse assunto. Dizia que se não ficasse sob minha guarda ou a dele não ficaria com mais ninguém, dando a entender que sumiria ou mataria as crianças.

Foi quando resolvi comunicar o conselho tutelar sobre o que eu estava vendo nos pequenos.
Sempre que eu os pegava eles estavam com fome, sujos, fedendo, roupas rasgadas e muito velhas. A bolsa deles nunca tinha mamadeira, fralda, nunca tinha roupas pra usar pq as que ele mandava estava suja, rasgada ou super grande que ficava caindo ou tão pequenas que não passava na panturrilha.

O conselho tutelar não me ouvia. Meu filho caçula, prematuro grave, sempre teve dificuldade de manter o peso, mas nos últimos meses ele estava tão magro que dava pra contar os ossos da coluna. Então, resolvi agir de outra forma, comecei a manter contato com a escolinha deles.

Pedi pro meu pai, mãe e pra moça que cuidava deles nos finais de semana denunciar no conselho tutelar o pai por maus tratos. Todas as denuncias não foram atendidas. Até a escola denunciar.
Resolveram então tirar as crianças do pai. Levaram para um abrigo de menores do governo.
Chegou a semana do dia das crianças. Passei a semana toda conversando com o pai dos pequenos, combinando dia e horário, roupas e sapatos que eu iria precisar, pois ia passar o feriado prolongado com eles e tinha combinado com umas amigas mães de levarmos os pequenos para parques, piscinas e etc. O pai só concordava.

Chegou no dia 13, as 09:00. Dia e hora marcados, eu estava lá na estação esperando os pequenos, com uma mamadeira pronta, um potinho com bolo, um pacote de bolacha e um salgadinho.
O celular do pai só dava caixa postal. (Já não era a primeira que ele fazia isso quando eu ia buscar os pequenos.)
Fiquei esperando até as 12:00.
Fui ate a delegacia, fiquei o dia inteiro na delegacia esperando ser atendida pra registrar B.O de desaparecimento, porém só depois de 24hs sem nenhum tipo de notícia, eu conseguiria fazer o B.O.

No mesmo dia, quando cheguei em casa, ele me ligou e falou que tinha perdido a hora. E que precisava falar comigo mas tinha que ser pessoalmente.
Na segunda feira bem cedo, fui ao conselho tutelar e soube que meus filhos estavam no abrigo desde o dia 09/10.
Ninguém me ligou pra avisar, ninguém me intimou, ninguém me avisou. (Minto, me ligaram sim de numero restrito sabendo eles (conselheiros tutelar) que eu não estava atendendo números privados pois alguns meses atrás o pai dos meus filhos começou a divulgar meu numero de telefone como se eu fosse prostituta e eu estava recebendo ligações privadas de homens ate de outro país perguntando valores.)

Sai correndo atrás de um defensor público, nos autos o promotor da vara da infância estava agindo contra o pai por maus tratos e contra mim pois uma vez, numa conversa no conselho tutelar falei que não me sentia mãe das crianças, e o MP entendeu que eu não os amo. Esse dia eu estava no fundo do poço da depressão, eu queria ver o diabo mais não queria mais saber de criança, e o conselho usou essa frase que eu disse contra mim.
O promotor e o MP entrou com um processo de retirada da guarda familiar, que é quando as crianças são levadas para adoção.

Estou movendo o processo contra essa decisão do MP, porem irei ter que mentir quando tiver audiência.
Vou ter que dizer que usei as palavras erradas, que eu os amo, que eu amo ser mãe, que eu só não estou em condições de cuidar deles agora.

Vou ter que mentir o que eu realmente sinto pra não perder meus filhos.

Gosto da maternidade? Não. Eu ODEIO A MATERNIDADE. ODEIO SER MÃE.
Gosto dos meus filhos? Sim. Eu amo muito meus filhos.

Mas eu vou precisar mentir pra justiça porque ela não vai querer fazer pesquisas de estudos com outras mães pra saber se o “amor de mãe” realmente existe ou é coisa de gente louca.

É por isso que nós, mães não podemos falar sobre o que realmente sentimentos, é por isso que nós, mães não podemos negar a maternidade. A nossa sociedade nos empurra goela a baixo que nascemos para isso. Que amor de mãe nasce junto com o bebe. Quando na verdade amor é construção.
Maternidade deveria ser uma escolha e não uma obrigação. Meus filhos vão passar natal e ano novo no abrigo, meu filho caçula vai passar o aniversário lá também. Me deram a estimativa de 6 meses para resolver tudo, porém, como é pela defensoria pública, meus filhos vão ficar quase um ano lá.

O conselho que lhes dou é: cuidado pra quem vc abre seu coração. Nem todo mundo está preparado pra ouvir a verdade.

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