Mulheres-mães protagonistas da própria história

Em meio à pandemia, informações cruzadas, desgoverno e mortes rasgam a nossa liberdade e nos enche de medo do invisível

Em meio à pandemia, informações cruzadas, desgoverno e mortes rasgam a nossa liberdade e nos enche de medo do invisível

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Até onde nos achávamos livres? Será que a liberdade era como conhecíamos?

Chegou um novo ano cheio de promessas, sonhos e desejos, como era previsto nas cartas, runas, e nos búzios. Mesmo com a conjuntura política apontando uma crise profunda, nossos corações e almas se renovaram na chegada de um novo ano.

Janeiro entrou rasgando o céu com seus orixás regentes mostrando sua verdadeira liberdade e poesia. “Muita justiça e tempestade” era o que prometia o ano do Sol.

Fevereiro chegou, chegando… confete, serpentinas, glitter, fantasias de protesto e muita dessa, tal, tão escassa liberdade.

Planejamentos de todas as formas, necessidades e formatos eram feitos para incluir os quatro dias, às vezes sete ou mesmo um mês de folia e da tal…tão escassa liberdade, dentro do nosso tempo e ou financeiro.

E vinha fevereiro, cantando e rebolando enchendo de cores e alegria as nossas vidas cheias dessa tal e tão escassa liberdade. Chegou, dançou, e sapateando a verdade, nos enchia de planos e vida como se estivéssemos na virada do ano novamente. Então, ele partiu assim…com cara de sonso e com a fé que dias melhores iriam chegar. (Sim, o carnaval já sabia da roubada da nossa escassa liberdade!).

Março chegou manso, cansado e preparando os coelhos e o chocolate em forma de ovo que a nossa liberdade iria ter de comprar. Também sonso e sarcástico, (sim, ele sabia o que estava por vir,mas mesmo assim preparava nossos espíritos para o próximo feriado após a festa da “carne”).

E foi quando, finalmente, no dia dezesseis de março de 2020, às 15:35, eu recebo um recado no grupo da escola do meu filho mais novo:

“O Prefeito fulano de tal, suspende as aulas das escolas municipais e privadas respeitando as indicações da OMS.”

A Primeira coisa que me passou pela cabeça foi o fato de ter criança em casa em tempo integral e que eu não iria ter nenhum momento dessa tal, tão escassa liberdade, até mesmo para trabalhar, mas o detalhe é que eu ainda não sabia exatamente o que estava acontecendo.

Fui atrás da veracidade da informação e neste meio tempo, meu filho mais velho  me liga do Rio dizendo que a Universidade havia suspendido as aulas e que ele, na sua recém nascida vida, estava voltando para casa logo no momento em que ele, na sua doce e profética ilusão que só os jovens têm, havia perdido a tal, tão escassa liberdade.

Todos em casa, meio sem saber exatamente quantos dias e o que de fato estava acontecendo.

Nós não temos televisão, então, o que chegava de informação era através das mídias sociais e alguns textos que amigo médico, amiga farmacêutica, amigas e amigos artistas comprometidos e educadores enviavam.

E eu me encontrava lendo e estudando tudo que eu julgava necessário e verdadeiro. Curiosidades e perguntas sem respostas importantes eram dadas por quem deveria orientar e amparar a população. A liberdade escorregando entre minhas entranhas e eu nem desconfiava que liberdade essa libertinagem me tiraria.

Os dias foram se movimentando mais rápido do que era possível acompanhar com sensatez. As aulas online estão mais populares que a própria COVID-19. As rotinas propostas para nossos filhos(as), são postas sem a menor liberdade de contra-proposta.

Em meio à pandemia, informações cruzadas, desgoverno e mortes, rasgam a nossa liberdade e nos enche de medo do invisível. As veias da liberdade dançam como bailarinas sem hora para o fim do espetáculo.

Hoje caminhamos de mãos separadas, beijos sem calor e abraços frouxos e com a incerteza do que é realmente ser livre e com a certeza que dias melhores serão trazidos pela própria liberdade e, com sorte, estará acompanhada de uma pitada de libertinagem para que possamos novamente fazer novas reflexões e sentir o vento no rosto de ter sobrevivido a grande farsa de achar que éramos livres.

Os dias continuam a amanhecer e anoitecer, os pássaros estão com a mesma e verdadeira liberdade de voarem ou não. O Sol e a Lua esbanjam liberdade em brilhar e ficar azul, e assim vamos seguindo o ano do Sol, com seus regentes colocando tudo no seu devido lugar, com seus julgos nítidos de liberdade permitida e autorizada por eles mesmos.

Caminharemos firmes, mesmo com vendas nos olhos, taça de vinho na mão, lábios se movimentando cantando o hino da sua liberdade. Vamos mesmo de mãos separadas à procura do nosso valor de liberdade, buscando equilíbrio onde parece não ter como tê-lo.

E assim escreveremos esse pedaço da história em que escolhemos ter ou não liberdade. Com a convicção que um novo modo de vida terá de ser construído em harmonia. Hoje, escolhi escrever ouvido Elis Regina que pra mim é a minha verdadeira liberdade, talvez seja por essa trilha sonora que caminhei no melancolismo da matéria.

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