Mulheres-mães protagonistas da própria história

Dores e Delícias

Compartilhe esse artigo

Não quero falar da exaustão materna, da casa por limpar, dos brinquedos espalhados, da louça na pia. Do grito dado, do choro contido, do cansaço. Do home office e das aulas remotas das crianças. Quero falar do desejo que todo esse contexto vem encobrir. 

Quero falar dos seus olhos brilhando quando você abre um livro devagar e sente o cheiro das palavras. Quando se permite e demora o olhar no horizonte, ou a lua no intervalo entre as mamadas. Quando se atreve a tomar um banho demorado mesmo com as vozes fantasmas chamando “mamãe”.

Falo de um desejo dividido, entre o olhar ávido do filho e do seu próprio no espelho a exigir. Do corpo que pede uma noite de sono inteirinha e, ao mesmo tempo, pede outro corpo entrelaçado no seu, lembrando que há uma mulher viva e sedenta. Não estou falando do Puerpério, mas do espaço entre o fim dele e o começo da sua inteireza que nunca chega.

Falo da proposta de trabalho recusada, da caminhada ou do crossfit – que era um respiro na lista de tarefas e compromissos – e que você nunca retomou. Falo da irritação, do chilique encenados com os filhos na dificuldade em separar o cansaço da maternidade e da mulher exigente que grita dentro de você. Falo daquilo que você nunca foi e nem terá sido.

Falo de mudança, de movimento, de onda e de mar. Deixe vir, deixe que suas águas abissais transbordem. Sinta a raiva, a agressividade, ela te dará a força necessária para ter coragem para se responsabilizar por suas dores e delícias. Tem muita luta aqui fora, mas não há patriarcado, misoginia e preconceito mais forte do que uma mulher que sabe quem se é.


Autora: Isabelle Maurutto – Mãe do Caê e das gêmeas Lis e Ivy. Amante da escrita. Psicóloga e Psicanalista em constante movimento.

Compartilhe esse artigo

Leitura relacionada

Últimos Artigos

Deixe um comentário