Mulheres-mães protagonistas da própria história

Dia das mães | não me chamem de guerreira

Dia das mães | não me chamem de guerreira

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Já faz um tempo que parei de comemorar o “dia das mães” de uma forma romântica, eu não consigo sentir alegria, não consigo festejar uma luta tão dolorosa como a minha, não  consigo olhar ao meu redor e ver tantas mães que vivem como eu ou até pior e parabenizá-las por isso. Não me chamem de guerreira, não me mandem rosas, não é plausível pra mim comemorar.

Maio, 2020, estamos vivendo uma pandemia, quarentena, isolamento social, eu estou exausta, minha mente já jogou as botas faz tempo, meu corpo resiste, mas também já não está aguentando, tudo em mim grita mas não sai uma só voz.

Sou mãe solo praticamente minha maternidade inteira, o progenitor do meu filho deixou de exercer seu papel desde os 3 meses da criança, ser pai é realmente é facultativo, mas ele não merece ser pauta aqui, quero falar do que realmente importa, as mães.

Anthony vai fazer sete anos, desde os três tem diagnóstico de autismo, está longe de suas atividades, de sua rotina, de seu tratamento, de tudo! Está regredindo, suas medicações aumentando, não temos uma comunicação direta pois Anthony não é verbal, tudo está um caos aqui em casa, eu não sei de onde tiro mais forças para enfrentar os dias, estou vivendo o mesmo dia todos os dias, um loop eterno de sobrecarga me cerca, a impaciência, o estresse, eu sou falha, o ser humano é falho.

Tento não me culpar tanto, eu tento, eu juro! Ninguém enxerga quando uma mãe chora exausta em seu quarto pedindo perdão ao seu filho por ser sido tão rude ou impaciente, o que todos fazem questão de enxergar, é o quanto você não faz o bastante, o quanto você não se esforça, julgar é hobbie de quem não sente empatia alguma e não sente na pele a sobrecarga de uma mãe que todos os dias perde um pedaço de si para se entregar numa rotina injusta, ser mãe solo não é motivo de orgulho, não me chamem de guerreira.

Ser mãe e estar sozinha não é sobre a falta de uma pessoa, é sobre a ausência de quem por obrigação deveria estar ali também. Ser mãe solo não é uma escolha. Não dou conta de tudo sozinha porque sou forte, dou conta de tudo sozinha porque não tenho com quem dividir, é solitário e doloroso.

Lembro que uma vez um ex namorado meu, com quem mantenho contato até hoje e tenho um carinho enorme por ele e sua família e ambos por mim e por meu filho, sem eu precisar dizer nada ele me mandou uma mensagem dizendo: “tá precisando de uma folga? Posso ficar com o Anthony esse final de semana.”. Anthony adora ir pra lá e confio plenamente nessa família tão querida que considero como minha. Essa mensagem, essas palavras, eu nunca ouvi em toda minha vida de maternidade. Ela veio de uma pessoa que não tem obrigação alguma de cuidar do meu filho, ela veio de uma forma sincera, ela veio com amor, empatia e carinho. Eu nunca esqueci disso e da importância dos pequenos gestos.

É estranho falar sobre a solidão na maternidade. Estranho até explicar. Como é que num momento em que a vida da mulher está literalmente preenchida é possível se sentir tão só?

Me sinto culpada, me sinto uma mãe fraca, sei que não sou, mas no momento me sinto assim, sei que não sou tão horrível  assim, só estou exausta. Minhas forças estão acabando, ninguém vê, ninguém vai perceber, ninguém percebe.

Eu estou caindo e ninguém vai empurrar sequer um banco velho e sujo para que eu possa me sentar, eu estou ruindo. Este não é um desabafo é quase um pedido de socorro. 
Não me chamem de guerreira, não me chamem, apenas me ouçam, eu estou pedindo ajuda, eu preciso de ajuda.

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