Mulheres-mães protagonistas da própria história

Depressão, aleitamento materno e a dor de não saber como agir

Depressão, aleitamento materno e a dor de não saber como agir

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Quando eu estava grávida já estava em depressão, não queria ser mãe e me sentia culpada por isso. Parte do meu sentimento de não querer meu bebê era porque cresci ouvindo que filho é atraso de vida, que filho estraga, etc. Aliás, boa parte da minha depressão na vida foi pelo fato de me sentir um fardo pra minha mãe. Na minha cabeça, ela poderia ter sido uma mulher de sucesso se eu não tivesse atrapalhado. Ainda carrego isso comigo, mas é papo pra outra hora.

Quando eu me sentia feliz por ter meu bebê, imediatamente me sentia culpada. Como eu poderia estar feliz com uma coisa que estragaria minha vida pra sempre? Assim eu levei a gestação em casa e devido a várias dificuldades financeiras eu tive que trabalhar (em parte foi pra me afastar de casa e afastar de mim o sentimento de inútil que eu carrego por não conseguir ter vontade de levantar e cuidar da minha casa e do meu marido). Minha casa sempre foi (e ainda é) uma bagunça, mas ficar ali piorava cada vez mais minha depressão (pelos motivos que já falei) e com as coisas tão difíceis (até comprar um x-salada era impossível pra gente) tomei coragem e fui procurar emprego grávida. Por sorte consegui.

Meus dias foram passando, a gestação também e eu vivendo como se não fosse nada demais (inclusive eu até brincava dizendo que não ia amamentar, não queria nada caído – tenho um grande complexo com minha aparência). Mas chegou o dia, meu pequeninho nasceu e tudo o que eu queria era ser tudo pra ele, desde o alimento ao alento.

Primeiro dia ok, ele estava morrendo de fome porque não pude amamentar assim que nasceu pois faltava um exame para saber se estaria tudo certo. Amamentei e a sensação era um pouco esquisita, mas nada demais. Achei fofo meu porquinho (ele roncava pra mamar) se alimentando de mim.

No segundo dia alguma coisa estranha aconteceu, estava doendo e pensei: “ué, mas ontem tava de boas. Não deve ser nada, vai passar.” No terceiro dia, ele chorava de fome e eu chorava junto porque a dor era horrível e eu não queria continuar. Me senti um lixo. Como um mamífero não quer amamentar? Era o mínimo que a natureza esperava de mim e nem isso eu conseguia fazer.

Ouvir meu filho com cólica a noite porque a fórmula fazia, mal me doía, minha depressão aumentava. Busquei ajuda em um grupo de mães, disse que já havia trocado de fórmula algumas vezes porque eu sentia que aquilo fazia mal pra ele e fui apedrejada.

Como uma mãe em sã consciência daria mais de uma fórmula pro bebê que não tinha um mês? Ok, vocês também podem me julgar, mas normalmente a mãe sabe quando algo não está fazendo bem para o filho. Tanto que assim que cheguei no Aptamil meu filho conseguiu dormir tranquilo, sem cólica. Aquilo foi um alívio pra nós, eu estava sozinha com ele (o pai trabalhava a noite para tentar dar conta das contas).

Éramos eu e meu pequeno. Meus parentes que me ajudavam só ficavam de dia afinal todos tem suas vidas. Às vezes minha mãe ficava, mas não era sempre que dava. Eu olhava aquele pinguinho de mim e chorava, pedia perdão por não conseguir fazer o mínimo por ele. A pediatra me entendia, aliás hoje ela é minha amiga e eu a considero muito porque ela foi uma das poucas que me acolheu nesse momento difícil.

O tempo foi passando e eu vi meu pequeno sem cólica, forte, crescendo. A culpa foi diminuindo, mas nunca sumiu. Tudo bem, posso conviver com isso. Quando começou a creche vieram as doenças e eu tive que escutar que se eu tivesse amamentado isso não aconteceria.

Naquele dia voltou tudo, voltou todo o inferno interno. Tanto que eu ainda tento amamentar, mas eu sei que ele não quer. Eu ainda tenho leite e ver meu filho preferir a mamadeira me machuca, mas o que eu posso fazer? A mamadeira foi a mãe dele todo esse tempo, por que ele iria me querer agora? Ver esse leite no meu peito me dá um sentimento de fracasso tão grande que dói, mas tento não pensar nisso. Não quero lembrar das horas que eu passava tirando leite pra dar pra ele pra não precisar dar o peito até que ele cicatrizasse, não quero lembrar do dia que consegui encher uma mamadeira de 240 mL com muito custo (depois de horas) porque na bombinha meu leite nunca saia direito e por um descuido caiu tudo no chão. Aquele dia eu entendi a verdade da expressão “chorar pelo leite derramado” porque eu chorei como criança ao ver todo o meu esforço no chão, todo o alimento do meu pequeno no chão. Aquilo foi triste.

Enfim, tomara que um dia essa culpa acabe e eu entenda no meu íntimo que eu sou mãe mesmo que não tenha amamentado, mesmo que tenha tido DPP e mesmo que eu tenha todos os meus defeitos. Eu sou mãe e no fim do dia é meu colo que ele procura pra dormir.

Por Letícia dos Santos

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