Mulheres-mães protagonistas da própria história

COLUNA | O primeiro encontro com o preconceito

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João Lucas sempre procura interagir com as crianças a sua volta, e sempre que estamos em lugares públicos eu estou próxima dele. Seja no parquinho ou no shopping porque, hoje em dia, todo cuidado é pouco! Numa dessas voltas ouvi uma criança dizendo que não brincaria com ele porque eu sou cega.

Ele acabou ficando triste e brincou sozinho durante algum tempo. Depois se aproximou e começou a me questionar com relação a minha cegueira e eu procurei responder suas perguntas da melhor forma possível, mas senti que ele ainda estava meio chateado com a situação que até então ainda não tinha sido vivida de uma forma tão intensa.

Dei um tempo pra ele se acalmar e aguardei para verificar se ele tocaria novamente no assunto, que veio ser nossa pauta de conversa enquanto ele tomava banho e eu o supervisionava: “Mãe, as crianças não gostam de brincar comigo por causa do seu olho?

Então, eu respondi: Porque algumas crianças acham que a cegueira pega como resfriado, porque algumas não sabem que mesmo a mamãe sendo cega faz tudo que as outras pessoas fazem, porque alguns pais não dão educação aos seus filhos, e eles rejeitam aquilo que pra eles é diferente. Você já é acostumado com a mamãe, com as amigas da mamãe, com o seu pai, mas as outras crianças não tem contato com uma pessoa cega, é por isso que você ouviu aquela frase no parquinho, mas, mesmo que uma criança não queira brincar com você, haverão outras que com certeza vão querer brincar e vocês vão se divertir muito.

Ele ficou mais aliviado e satisfeito com a resposta. Procurei lhe apresentar os fatos de uma maneira leve para que fossem compreendidos e pra que ele soubesse que mesmo que o preconceito bata na nossa porta diariamente, nunca deixaremos de ser a família que somos por causa disso.

Pra mim, a cegueira não é tabu, e para que a sociedade aprenda a conviver conosco, temos que ser vistos. E eu serei vista com o meu filho em diversas atividades, porque meu olho pode até não funcionar, mas restante do meu corpo funciona e eu vou viver intensamente um dia de cada vez a fim de mostrar pra ele tudo de bom que Deus nos deixou aproveitar. E ele ao longo do tempo criará resiliência pra lidar com tudo isso.

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