Mulheres-mães protagonistas da própria história

COLUNA | Equidade no direito à educação

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Em um ano tormentoso no qual situações inéditas acometeram nossas vidas, uma das graves consequências da pandemia foi o agravamento da desigualdade social.

Mulheres deixaram ou foram expulsas do mercado de trabalho em proporções absurdas, sendo que muitas destas ficaram desprovidas de apoio suficiente para cuidar das crianças enquanto trabalhavam.

Neste cenário, as mães solo estão ainda mais sobrecarregadas, tentando equilibrar um empreendedorismo, muitas vezes não opcional, com as tarefas domésticas e a educação dos pequenos, os quais permanecem ainda mais vulneráveis, inclusive com riscos de subnutrição.

Além do risco de fome, crianças de famílias pobres têm outros agravantes. A Internet ainda não chega em muitas comunidades brasileiras, e, sem equipamentos em quantidade suficiente, nem todas as crianças têm acesso ao conteúdo que deveriam aprender.

As crianças com irmãos em uma mesma casa devem logar na aula ao mesmo tempo, faltando salas separadas para a privacidade do estudo, bem como aparelhos suficientes e Internet capaz de suportar tantos acessos simultâneos.

Enquanto as escolas particulares permaneciam fechadas para acolhimento, havia, para famílias mais abastadas, possibilidades de contratação de professores particulares e aulas extracurriculares, enquanto as famílias pobres não tinham esta opção. Gerando, assim, disparidade socioeconômica.

Crianças que dependem de adaptação ou deveriam ter deficits educacionais identificados (e tratados) dependeram de sorte, já que o ensino a distância é particularmente difícil nesse quesito e os pais não possuem formação pedagógica para notar – em tempo hábil – estes detalhes.

Famílias com maior poder aquisitivo podiam contratar cuidadores e selecionar os que traziam menor risco (com experiência ou especializações) enquanto as outras famílias dependiam de vizinhos ou creches clandestinas para seguir trabalhando e sustentando a casa, mas muitas crianças ficaram sozinhas em casa (antes de terem maturidade para isso) ou diretamente na rua (inclusive pedindo esmolas ou aprendendo com o crime organizado local).

Isso sem mencionar aquelas que foram conduzidas ao clandestino mercado de trabalho infantil com o aumento de desemprego dos pais.

Para as crianças que tiveram problemas psicológicos decorrentes do isolamento, as que dependem exclusivamente do SUS demorarão muito mais para conseguir as consultas e voltar a se sentirem bem.

Hoje, com a reabertura de escolas privadas para acolhimento, e, em alguns municípios para aulas, a desigualdade aumentará ainda mais. O ensino a distância se mostrou falho para todas as faixas etárias, e o prolongamento forçado e desnecessário desta etapa trará consequências perversas para os mais pobres.

O principal argumento para manter escolas públicas fechadas são as péssimas condições deste equipamento. Argumenta-se que muitas escolas não têm água, sabonete, materiais de limpeza, portas nos banheiros, pias, papel higiênico e encontram-se sucateadas, e tampouco seriam adaptadas para receberem os alunos com segurança.

Esta situação, que por si só já teria sido suficiente para provocar a união da comunidade, tanto para exigir melhores condições para alunos e professores, quanto para, na medida de suas capacidades, angariar fundos para complementar as necessidades da comunidade escolar, foi comodamente esquecida por anos (ou décadas) de completo descaso e menosprezo à educação e aos cidadãos (alunos, responsáveis e vizinhos das escolas).

Embora seja um argumento válido, ele não se contrapõe à necessidade dos alunos de regressarem, ao agravamento da saúde mental dos alunos e ao aumento da desigualdade, sendo que muitos destes encontram condições iguais ou piores em suas comunidades (muitas delas sem acesso à água e saneamento básico).

Insta frisar que não se observou nenhum movimento significativo, inclusive de reformas estruturais, para melhoria das escolas, fechadas há 9 meses em função da pandemia. Seria oportuno que as restaurações ocorressem nesse período, o que, em sua grande maioria não ocorreu, mesmo cientes da migração significativa de crianças da rede privada para a pública.

Assim, é necessário urgentemente que a comunidade valorize a escola de seu bairro, verifique o que pode (ou deve urgentemente ser feito) para a adequação do local que deveria receber o futuro do país por 200 dias a cada ano.

Cobrem dos prefeitos melhorias das escolas municipais, dos vereadores a fiscalização dos gastos com estas, e se organizem, atuando da forma que puderem (organizando arrecadações, contribuindo com seus ofícios, doando itens etc) para valorizar a educação em todas as esferas.

Certamente, uma escola cuidada é um local agradável aos alunos, o qual eles também buscarão preservar pelo exemplo que receberem dos pais e demais membros da comunidade.

Assim podemos sonhar, não só em superar a pandemia, mas também dar os primeiros passos em direção a uma sociedade mais igualitária e justa.

A escola é, dignamente, um serviço essencial e seu fechamento prolongado é desastroso e injustificado numa sociedade permissiva à tantas futilidades de risco.

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